Memórias: Nascimento do Hip Hop

13 08 2020

No dia 11 de agosto de 1973, um jamaicano de 16 anos organizou uma festa, no Bronx (Nova Iorque), que mudou para sempre a história da música pop. Naquela noite, nasceu o Hip Hop. Por António José André.
Por causa das festas que organizava (“block parties”), Clive Campbell, que seria conhecido como DJ Kool Herc, é considerado fundador do Hip Hop. Campbell percebu que o público se divertia, quando tocava a parte rítmica das canções de James Brown na ausência da letra (os breaks).
Herc tirou a agulha do gira-discos, voltando manualmente para o início do break e repetinndo tantas vezes quanto necessário. Utilizou 2 discos iguais em 2 aparelhos para reproduzir os breaks, um após outro, e prolongar a canção “Give it Up or Turnit Loose” do LP “Sex Machine”.
Isso ficou conhecido como “Break Beat”. Naquela noite, o seu amigo, Coke la Rock, pegou no micro e começou a cantar improvisadamente por cima dos breaks, num estilo que é conhecido como “Rap”. Coke la Rock é considerado o primeiro MC (mestre de cerimónia) na história do Hip Hop.
O Bronx encontrava-se em ebulição por causa da transformação causada pela especulação imobiliária, que levou à saída de milhares de moradores. Com a desvalorização dos imóveis, os proprietários provocavam incêndios para serem indemnizados pelos seguros.
Esse cenário contribuíu para o surgimento de gangues juvenis. Mas Herc organizava festas onde não havia lutas de gangues. Os bailes tornaram-se uma alternativa para os jovens do bairro. O estilo de Campbell foi seguido por Grandmaster Flash e Afrika Bambaata.
Depois, foram estabelecidos quatro pilares do Hip Hop: o Rap, o Djing, a Breakdance e o Graffiti. O Hip Hop e o Rap saíram do underground, sendo incorporados na cultura Pop. Mesmo assim, continuam a ser a principal expressão cultural e uma forma de protesto contra injustiças.





Memórias: Velimir Khlébnikov

29 07 2020

No dia 28 de julho de 1922, morreu Velimir Khlébnikov. Foi um um poeta, pensador, ornitólogo, matemático, pintor russo e uma figura proeminente na arte vanguardista. Por António José André.
Velimir Khlébnikov nasceu a 9 de Novembro de 1885. Viktor Khlébnikov, que substituiu o seu nome latino pelo eslavo Velimir (que significa “grande mundo”), nasceu numaa família de um ornitólogo,:um dos fundadores do horto florestal de Astrakhan.
A família Khlébnikov mudava frequentemente de residência. Em 1898, mudou-se para Kazan, onde o poeta se formou no liceu. Lá evidenciaram-se as suas primeiras paixões: matemática, ornitologia, língua e literatura russas.
Em 1903, Khlébnikov ingressou na Universidade de Kazan, na Faculdade de Física e Matemática, onde estudou Matemática e, mais tarde, se interessou por Zoologia. Em 1908, mudou-se para São Petersburgo e ingressou na Faculdade de Ciências Naturais. Depois mudou-se para a Faculdade de História e Filosofia.
Conheceu o grupo de jovens artistas (os irmãos Burliuk, Aleksei Kruchónykh, Elena Guro, Vassíli Kamiénski, Vladímir Maiakovsk, Benedikt Livshits, Olga Rozanova e Kazimir Malevitch) do qual resultou a formação do movimento dos cubo-futuristas.
A primeira apresentação conjunta dos cubo-futuristas na imprensa foi o almanaque poético “Viveiro dos Juízes” (1910), impresso na parte de trás de um papel de parede.
Khlébnikov foi inspirador e um dos autores (juntamente com David Burliuk, Vladímir Maiakovski e Aleksei Kruchónykh) do Manifesto do Futurismo Russo. Os futuristas russos chamavam-lhe “o Presidente do Globo Terrestre”; Maiakovski chamava-lhe “o Colombo dos novos continentes poéticos”…
Nas suas obras está espalhado um conjunto de previsões, cuja grande maioria se mostrou profética. Eis algumas delas:
A proclamação da independência do Egito – Khlébnikov predisse que, em 1922, seria criado um “grande estado em África”;
A Primeira Guerra Mundial – no seu Apelo aos Estudantes Eslavos, escreveu: “Em 1915, as pessoas vão entrar em guerra e serão testemunhas da queda do estado”.
O colapso das Torres Gémeas – no poema “Ladomir” (1920), o poeta escreveu: “Os castelos do comércio mundial/Onde as cadeias da pobreza brilham/Transformam-se um dia em cinzas”.
A internet e a televisão – no ensaio-utópico “Rádio do Futuro” (1921), o poeta descreve a internet, apenas lhe dá outro nome, bem como a televisão, chamada “rádio para os olhos”.
Khlébnikov apoiou a Revolução de 1917 e os bolcheviques. Para ele, os acontecimentos revolucionários foram entendidos como um caminho para a humanidade manifestar a sua livre vontade. Depois da revolução de Outubro, trabalhou nos órgãos de propaganda e de educação em Astrakhan, Piatigorsk e Baku.
Em Dezembro de 1921, o poeta regressou a Moscovo. A atmosfera da Nova Política Económica (NEP) parecia profundamente alheia à natureza de Khlébnikov. Este não era, de todo, o mundo do futuro com o qual tinha sonhado. Khlébnikov considerava que o estado do futuro excluiria a civilização do mercantilismo mundial.
Velimir Khlébnikov viveu os últimos anos de vida gravemente doente e passando fome. O poeta morreu na aldeia de Santalov, a 28 de julho de 1922.
Após a morte, começaram a ser publicadas as suas obras. Em 1923, foi editado um livro de versos do poeta, em Moscovo. Em 1925, Kruchónykh editou o “Caderno de Notas” de Velimir Khlébnikov; em 1936, foi publicado o livro “Versos Escolhidos”; em 1940, foi editada a coletânea “Velimir Khlébnikov. Poesias”; em 1960, foi editado “Velimir Khlébnikov. Versos e Poemas”. Desde 1984, a sua obra foi republicada quase todos os anos. Em 1993, foi inaugurado o Museu do poeta, em Astrakhan.





Memórias: Carlos Monsiváis

18 06 2020

No dia 19 de junho de 2010, morreu Carlos Monsiváis. Foi um escritor, jornalista e ativista político mexicano, conhecido pela sua visão sarcástica e pela sua linguagem cáustica. Por António José André.
Carlos Monsiváis nasceu a 4 de maio de 1938, na Cidade do México. Estudou na Escola de Economia e na Faculdade de Filosofía e Letras (Universidade Nacional Autónoma de México – UNAM).
Posteriormente, Monsivais trabalhou na UNAM, como catedrático. Também foi docente na Universidade de Essex, no King’s College (Grã-Bretanha) e na Universidade de Harvard.(EUA).
Dotado de uma vasta bagagem cultural, Monsiváis escreveu, desde jovem, para diversos suplementos culturais e jornais mexicanos. Depois, colaborou com “Novedades”, “El Día”, “Excélsior”, “La Jornada”, “El Universal”, “Proceso”, “Siempre!”, “Nexos”, entre outras publicações.
As suas posições políticas e o conhecimento dos fenómenos sociais e culturais, levaram-no a questionar o autoritarismo e o conservadorismo. Carlos Monsiváis foi um ativista político, desde os anos 60.
Monsivais participou nas lutas estudantis. Também defendeu outras causas: o feminismo, a legalização do aborto, a luta contra as touradas, as lutas populares da América Latina (o movimento zapatista, por exemplo)….
“Antologias Poéticas”, “Biografias” (de Frida Kahlo e de Octávio Paz, por exemplo) e “Ensaios” são parte da extensa bibliografia de Carlos Monsiváis, que também se interessou pela Rádio, pelo Cinema e pela Música (foi diretor da coleção de discos “Voz Viva de México”, da UNAM).
No dia 19 de junho de 2010, morreu Carlos Monsiváis. Tinha 72 anos e foi um dos mais importantes escritores contemporâneos, conhecido pela sua visão sarcástica e pela sua linguagem cáustica.
Veja também este documentário:

 





Memórias: Captain Beefheart

16 01 2020

No dia 5 de janeiro de 1941, nasceu Don Van Vliet ou Captain Beefheart. Foi um músico e pintor norte-americano. Durante a sua vida, manteve uma seqüência prolífica de esboços e pinturas. Artistas como Tom Waits, Nick Cave, Franz Ferdinand, Oasis, Red Hot Chili Peppers e The White Stripes estão entre os que o citaram como influência. Por António José André.
Don Van Vliet ou Captain Beefheart nasceu a 5 de janeiro de 1941, no subúrbio de Glendale (California). A família teve influência nos seus talentos artísticos. Começou a esculpir aos 4 anos de idade. Na adolescência, Don Van Vliet descobriu o blues junto com o seu amigo de infância Frank Zappa, que permaneceu um amigo e rival por toda a vida. Em Lancaster, (deserto Mojave na Califórnia), Zappa e Van Vliet criaram o nome Captain Beefheart.
No meio da década de 60, constituíu a banda de blues, His Magic Band.. Durante duas décadas, os membros da banda mudaram freqüentemente. A banda alargou com a presença do guitarrista Ry Cooder.
Em 1967, foi editado o primeiro álbum, “Safe as Milk”. Apesar de inspirado por blues, o álbum refletia a era psicadélica e tendências surrealistas. Também dava indícios de avant-garde que acabaria por ser a marca de Captain Beefheart.
Em 1969, foi editado o álbum, “Trout Mask Replica”, uma mistura dadaísta de blues, free jazz , rock e poesia beat., produzido por Frank Zappa. Os músicos estiveram numa casa durante 8 meses e só podiam sair uma vez por semana para comprar comida. As letras eram surreais e os membros da banda ganharam apelidos como Mascara Snake, Zoot Horn Rollo e Rockette Morton.
O álbum seguinte, “Lick My Decals Off, Baby” foi igualmente de natureza experimental. Mas os álbuns,”The Spotlight Kid”, “Clear Spot”, “Unconditionally Guaranteed” e “Bluejeans and Moonbeams” , foram acusados pelos fãs de serem comerciais demais. Mas depois, “Bat Chain Puller” e “Ice Cream for Crow” foram aclamados.
Don Van Vliet conhecido como Captain Beefheart, morreu a 17 de dezembro de 2010, devido a complicações decorrentes de esclerose múltipla..
Durante a sua vida, Captain Beefheart manteve uma seqüência prolífica de esboços e pinturas. Com uma voz grave, gritava à maneira de um dos seus heróid, o bluesman Howlin’ Wolf, e tornou-se uma figura influente na música rock.
Artistas como Tom Waits, Nick Cave, Franz Ferdinand, Oasis, Red Hot Chili Peppers e The White Stripes estão entre os que o citaram como influência. Depois, com o seu nome verdadeiro, Don Van Vliet, tornou-se um pintor conhecido.





22 OUT: Apresentação do livro “AS CLASSES MÉDIAS” – Teatro da cerca – 18h

20 10 2019

No dia 22 de outubro (terça-feira), vai ser apresentado o livro “As Classes Médias em Portugal”. O evento, que contará com a presenças de Francisco Louçã, João Teixeira Lopes e Lígia Ferro, será moderado pelo jornalista, João Gaspar,e decorrerá no Bar do Teatro da Cerca, em Coimbra., a partir das 18h. Contamos consigo.
. . .
“AS CLASSES MÉDIAS EM PORTUGAL” de Francisco Louçã, João Teixeira Lopes, Lígia Ferro (Editor:Bertrand Editora)
“Nenhum discurso político contemporâneo prescinde de referências à classe média. Ora em tom encomiástico, apologético e até messiânico, elogiando as suas virtudes de empenho, talento e mérito; ora realçando o seu papel de articulador da estrutura social, espécie de modelo para a mobilidade social e pivô das mudanças societais; ora como estabilizador, árbitro e nó central das dinâmicas políticas; ora como conjunto de camadas a serem conquistadas para a obtenção de maiorias aritméticas e políticas; ora, em sentido contrário, para enfatizar a quebra do elevador social, a sua crescente vulnerabilidade à desclassificação social, pauperização e precarização.
Mas quem é a classe média, ou as classes médias? Pois é toda a gente, ou pelo menos quase toda a gente assim responderá. Mas, sob este manto comum de identidade, convivem posições e representações sociais muito distintas. Tem de haver um plural para classe média: a de cima, que se cola e projeta na burguesia, e a de baixo, pauperizada e comprimida às classes populares; a do público e do privado, a das áreas metropolitanas e a do rural em transição; a tradicional e a nova.
Neste livro partiremos de estatísticas, relatos biográficos e análise de discurso para conhecermos um pouco melhor a classe média portuguesa. Como vive, como se reproduz, que dificuldades enfrenta, como se mobiliza politicamente, que estilos de vida desenvolve. Mostraremos como é frágil e assustada, espremida e comprimida, em particular após a grande crise.”
– – –





Memórias: Frida Kahlo

16 07 2019

No dia 13 de julho de 1954, morreu Frida Kahlo, grande pintora mexicana e uma das maiores pintoras do século XX. Comunista e revolucionária, ela foi criadora da sua própria personagem e tema da sua obra. Por António José André.
Frida Kahlo nasceu na cidade do México, em 6 de julho de 1907. Em 1913, foi-lhe diagnosticada uma poliomielite, doença que acabou por deixar sequelas na sua perna direita. Em 1922, iniciou os estudos na Escola Nacional, onde teve a oportunidade de observar Diego Rivera a pintar o mural “A Criação”.
Em 17 de setembro de 1926, sofreu um acidente, quando viajava de autocarro. tendo uma rutura da coluna em 3 lugares. Um cano atravessou-lhe a bacia até à região púbica, produzindo uma tripla fratura da pélvis. Assim, ficou impedida de ter filhos. Esse acidente marcaria toda a sua vida.
Durante a convalescença, começou a pintar os seus primeiros quadros. Em 1927, reencontrou-se com Diego Rivera, quando ele regressou da União Soviética. O pintor mostrou interesse pela artista e pela sua obra. Dois anos depois, casaram-se e viajaram para os Estados Unidos.
Em Nova Iorque, Frida Kahlo pintou “My dress hanging there”, quadro que prenunciava a sua obra repleta de símbolos, com influência da estética popular e religiosa mexicana. Em 1934, regressaram ao México e instalaram-se, em San Ángel. Sofre. O processo de desfiguração do seu corpo é constante e isso refletiu-se nos seus trabalhos.
Separou-se de Diogo Rivera e viajou para Nova Iorque. Em 1937, Frida regressaria ao México, época em que Leon Trotsky e Natália, chegaram ao país. Frida foi recebê-los e.instalaram-se na sua casa de Coyoacán. Foi um ano muito prolífico para Frida. Produziu “Minha irmã e eu”, “O defunto Dimas”, “Meus avós, meus país e eu” e vários autorretratos.
Em 1938, André Breton chegou ao México e partilhou as suas ideias com Frida. Nesse ano, Frida foi a Paris visitar a exposição “México”, que André Breton organizou com obras pré-hispânicas e 18 quadros de Frida.
Em 1940, Frida participou da Exposição Internacional do Surrealismo na Galeria de Arte Mexicana com as telas “As Duas Fridas” e “A Mesa Ferida”. No dia 21 de agosto desse ano, Trotsky foi assassinado. A sua admiração pelo dirigente revolucionário russo levaram a ter um romance com ele.
Frida voltou aos Estados Unidos para receber tratamento médico. Participou na Exposição Internacional Golden Gate (São Francisco) e na Exposição Vinte Séculos de Arte Mexicana (Nova Iorque). No final desse ano, voltou a juntar-se a Rivera. Em 1941, regressaram ao México e Frida pintou vários autorretratos.
Em 1942, expôs no Museu de Arte Moderna (Nova Iorque). Em 1943, foi nomeada professora da Escola de Pintura e Escultura La Esmeralda. De 1944 a 1949, participou em exposições nacionais e internacionais. Em 1950, Frida ficou internada nove meses por causa da complicação do enxerto dum osso na coluna vertebral.
Em 1951, pintou várias naturezas mortas e o “Retrato do meu pai Wilhelm Kahlo”. Em 1953, Frida organizou uma ampla Exposição individual na Galeria de Arte Contemporânea (México). Depois foi internada para a amputação da perna direita devido a um quadro de gangrena.
Veja também:
https://www.esquerda.net/artigo/memorias-frida-kahlo/37783





Memórias: Vinicius de Moraes

11 07 2019

No dia 9 de julho de 1980, morreu Vinicius de Moraes: um dos mais populares poetas brasileiros. Vinicius foi escritor, diplomata,  jornalista e músico. Por António José André.

Vinícius de Moraes nasceu a 19 de Outubro de 1913, no Bairro da Gávea (Rio de Janeiro). Era filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário da Perfeitura, poeta, violonista amador, e de Lídia Cruz de Moraes, pianista amadora.

Aos três anos, Vinicius de Moares mudou-se para Botafogo, indo morar com os avós. Frequentou a Escola Primaria, escrevendo os seus primeiros versos. Em 1924, Vinicius de Moares entrou para o Colégio Santo Inácio, cantando no coro da Igreja. Em 1929, a família voltou para Gávea.

Nesse ano, Vinicius de Moares entrou para a Faculdade de Direito. Em 1933, concluiu o curso e publicou “O Caminho para a Distância”. Em 1935, publicou o livro “Forma e Exegese”. Em 1938, ganhou uma bolsa do Conselho Britânico para estudar Língua e Literatura inglesas, na Universidade de Oxford. Nesse ano, publicou “Os Novos Poemas”.

Com o início da II Guerra Mundial, Vinicius de Moares voltou para o Rio de Janeiro. Nos anos seguintes publicou muitos poemas e tornou-se assim um dos mais populares da Literatura brasileira. A sua obra foi vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música.

Vinicius de Moares considerou que a poesia foi a sua primeira e maior vocação.  No campo musical, teve como principais parceiro, entre outros, Tom Jobim, Baden Powell, João Gilberto e Chico Buarque.

Escute aqui “O operário em construção” de Vinicius de Moraes:





Memórias: Éric Satie

5 07 2019
No dia 1 de julho de 1925, morreu Éric Satie. Foi um compositor, escritor e pianista francês. Irreverente e excêntrico, teve influência no cenário da vanguarda parisiense do início do século XX. Foi precursor da música ambiente, do teatro do absurdo e do minimalismo.  Por António José André.
Éric Satie nasceu a 17 de maio de 1866, em Honfleur (Normandia – França). Em 1873, morreu a sua mãe, Jane Leslie Aston. O pai, Jules Alfred Satie, foi viver para Paris. Satie foi criado pelo seu tio boémio, Adrien Satie.
Em 1878, Satie mudou-se para Paris. Em 1880, ingressou no Conservatório, onde foi considerado preguiçoso e sem o menor senso de ridículo. Em 1890, Satie foi morar num pequeno quarto, em Montmartre.
Tornou-se pianista no cabaré “Chat Noir”, onde se apresentou como “gymnopedista”. Termo que deriva do antigo festival grego “Gymnopaedia”, dedicado ao deus Apolo.
Nesse cabaré, Satie trabalhou com o humorista, Alphonse Allais, que o apelidou “Esotérik Satie”. A sua música erai apreciada por poucos e desprezada pela maioria dos compositores e críticos musicais.
Em 1891, Satie entrou para a Ordem Cabalística da Rosa-Cruz (instituição esotérica). Insatisfeito, fundou a “Eglise Métropolitaine d’ Art de Jésus Conducteur” (“Igreja Metropolitana de Arte de Jesus como Guia”), da qual era o único membro.
Em 1898, Satie deixou Montmartre e foi viver para um quarto no subúrbio industrial de Paris. Caminhava diariamente 9 quilômetros para ir tocar em Montmartre. Em 1905, surpreendeu todos, quando resolveu voltar a estudar.
Com 40 anos, ingressou na Schola Cantorum de Paris. Estudou contraponto e orquestração, abandonando por algum tempo a vida boémia. Em 1908, Satie recebeu o diploma com a avaliação de “muito bom”.
Satie decidiu voltar a compor, regressando à vida noturna de Paris. As suas peças eram originais e inspiradas no ambiente de bares e cabarets. A partir de 1911, a sua música começou a ganhar atenção.
Em 1917, Satie compôs “Parade”/1, concebido para o Ballet Russes de Serguei Diaguilev, incorporando sons de uma máquina de escrever, uma sirene e um tiro de pistola. Jean Cocteau escreveu o argumento.
Pablo Picasso tratou do cenário e do guarda roupa. Nessa peça, apareceu pela primeira vez o termo surrealismo, usado por Guillaume Apollinaire, que mais tarde designou um movimento artístico e literário.
Em 1918, Satie escreveu a ópera “Socrate”, um drama com textos de Platão, traduzidos por Victor Cousin. Esta obra marcou uma mudança no seu estilo. Satie foi mentor do grupo “Les Six”, banda de vanguarda que reagiu contra o romantismo e o impressionismo na música e tinha a supervisão de Cocteau.
Após anos de boémia, Satie morreu a 1 de julho de 1925. Irreverente e excêntrico, teve influência no cenário da vanguarda parisiense do início do século XX.
Foi precursor da música ambiente, do teatro do absurdo e do minimalismo. A sua primeira peça “Vexations” (1893) tinha 32 compassos que se repetiam 840 vezes. Além de compor, gostava de escrever e fazer caricaturas, que revelavam o seu estilo irónico.




Memórias: Primeiro filme LGBTI surgiu há 100 anos

30 06 2019

No dia 28 de maio de 1919, decorreu a estreia do filme alemão “Diferente dos Outros”(“Anders als die Andern”). Escrito por Richard Oswald e Magnus Hirschfeld, trata-se da primeira longa-metragem LGBTI da História. Foi uma bandeira que serviu para alavancar a luta pelos direitos sexuais. Por António José André.
Há 100 anos, o filme “Diferente dos Outros” ousou abordar o romance de dois homens. Foi uma bandeira contra o Parágrafo 175 do Código Penal alemão e serviu para alavancar a luta pelos direitos sexuais. É uma história ousada para a época, mas é compreensível que tenha surgido naquele tempo e naquele espaço.
A Revolução Russa de 1917 e a crise económica, causada pela Primeira Guerra Mundial, abalaram a Alemanha. Em 1918, foi derrubado o regime autoritário do Kaiser e proclamada a República de Weimar. Eram tempos de mudança, onde a Liga Espartaquista, liderada por Rosa Luxemburgo, teve um importante papel.
Nesse contexto, muitos direitos políticos e sociais foram conquistados. As artes floresceram no campo da vanguarda: seja na literatura ou no teatro, seja na arquitetura ou no cinema. O Expressionismo alemão deu asas à vida, tal como outras correntes estéticas.
O filme “Diferente dos Outros” era parte do trabalho militante de Magnus Hirschfeld (médico, homossexual e artista judeu), que fundou o Comitê Científico Humanitário (C.C.H.), em 1897.
O C.C.H., fundado em Berlim, realizou Encontros contra o Parágrafo 175 e promoveu uma Petição pedindo a sua revogação, que foi subscrita por muitas personalidades da época (Albert Einstein, Hermann Hesse, Thomas Mann, Rainer Maria Rilke e Leão Tolstói), entre mais de 6 mil assinaturas.
Nota: este parágrafo hediondo, promulgado em maio de 1871, considerava ilegal a homossexualidade e apenas abolido, em março de 1994.
Em 1933, quando o nazismo assumiu o poder, ilegalizou o C.C.H. e destruiu a sua enorme Biblioteca. O filme não sobreviveu na sua totalidade. Foi recortado e reeditado ao longo dos anos. Mas sobreviveu a ousadia de lutar.
Veja o filme reconstituído (em inglês) eaqui: https://vimeo.com/251002359
Ficha técnica
Título: “Diferente dos Outros” (“Anders als die Andern”) – Alemanha, 1919
Género: Drama
Direção: Richard Oswald
Roteiro: Magnus Hirschfeld, Richard Oswald
Elenco: Conrad Veidt, Leo Connard, Ilse von Tasso-Lind, Alexandra Willegh, Ernst Pittschau, Fritz Schulz, Wilhelm Diegelmann, Clementine Plessner, Anita Berber, Reinhold Schünzel, Helga Molander, Magnus Hirschfeld, Karl Giese
Duração: 50 min.
Paul Körner é um violinista famoso. Procurado pelo jovem Kurt Sivers, Körner aceita dar-lhe aulas e algo mais se desenvolve entre eles. Certo dia, os dois são vistos de braços dados na rua, por Franz Bollek. Na Alemanha, a contravenção prevista no Parágrafo 175 do Código Penal, proibia o homossexualidade. Bollek começa a chantagear Körner, ameaçando entregá-lo à polícia. A situação fica insustentável. Sivers desaparece. Levado a tribunal por Bollek, Körner é defendido por Magnus Hirschfeld.





Memórias: Carlos Monsiváis

25 06 2019

No dia 19 de junho de 2010, morreu Carlos Monsiváis. Foi um escritor, jornalista e ativista político mexicano, conhecido pela sua visão sarcástica e linguagem cáustica. Por António José André.
Carlos Monsiváis nasceu a 4 de maio de 1938, na Cidade do México. Estudou na Escola de Economia e na Faculdade de Filosofía e Letras (Universidade Nacional Autónoma de México – UNAM). Posteriormente, trabalharia na UNAM, como catedrático. Também foi docente na Universidade de Essex e no King’s College (Grã-Bretanha) e na Universidade de Harvard.(EUA).
Dotado de uma vasta bagagem cultural, Carlos Monsiváis escreveu, desde muito jovem, para diversos suplementos culturais e jornais mexicanos. Depois, colaborou com “Novedades”, “El Día”, “Excélsior”, “La Jornada”, “El Universal”, “Proceso”, “Siempre!”, “Nexos”, entre outras publicações.
As suas posições políticas e o conhecimento dos fenómenos sociais e culturais, levaram-no a questionar o autoritarismo e o conservadorismo. Carlos Monsiváis foi um ativista político, desde os anos 60, participou nas lutas estudantis. Também defendeu outras causas: o feminismo, a legalização do aborto, a luta contra as touradas, as lutas populares da América Latina (o movimento zapatista, por exemplo)….
Antologias Poéticas, Biografias (de Frida Kahlo e de Octávio Paz, por exemplo) e Ensaios são parte da extensa bibliografia de Carlos Monsiváis. Também se interessou pela Rádio, pelo Cinema e pela Música (foi diretor da coleção de discos “Voz Viva de México”, da UNAM).
Carlos Monsiváis morreu com 72 anos, a 19 de junho de 2010, na Cidade do México. Foi um dos mais importantes escritores contemporâneos, conhecido pela sua visão sarcástica e pela sua linguagem cáustica.
Veja também: https://www.youtube.com/watch?v=nXhDHWweb7w